“A igreja evangélica, como força religiosa significante, está morta ou moribunda, porque tem esquecido o propósito de sua existência. Em vez de tentar fazer o trabalho de Deus do jeito dele, ela está tentando construir um reino terreno próspero com ferramentas seculares.” Isso foi constatado por David F. Wells nos idos de 1993. Será que algo mudou nesses dezoito anos?
A igreja está esquecendo a sua teologia. A igreja está buscando a sabedoria do mundo, se envolvendo com a sua teologia. Seguindo os ditames do mudo e se utilizando de seus métodos e técnicas para fazer a obra de Deus.
Antigamente, os pais da igreja e os reformadores se debruçavam sobre as Sagradas Escrituras e humildemente confessavam o quão ignorantes eram acerca das coisas do espírito. Eles não se achavam acima das Sagradas Letras, mas buscavam nelas sabedoria, graça e luz. Contudo, isso meio que foi perdido, e a sabedoria vinda do alto perde cada vez mais espaço para a sabedoria do mundo. Isso traz consigo tristes e aterradoras consequências para a igreja de Cristo. Primeiro, a fé das pessoas é abalada, pois a sabedoria do mundo gera um estado de insegurança acerca do em que acreditar. Segundo, as igrejas estão abraçando a aparência e os valores morais do mundo. Terceiro, as decisões que devem ser tomadas para dirigir os santos nos caminhos do Senhor são baseadas na vontade humana, mesmo sendo uma vontade depravada.
As igrejas estão adotando a teologia do mundo. Uma teologia fácil, onde todos os seres humanos são totalmente bons, e ninguém está condenado a danação eterna ou muito menos mortos em delitos e pecados (Ef 2.1), como assevera o grande apóstolo Paulo, e onde crer em Jesus Cristo é apenas parte da religião e não o centro de tudo.
Nisso tudo, o pecado não é visto mais como um ato de rebelião contra Deus, e que o homem não é responsável, porque o pecado agora é visto apenas como um desvio de conduta causado pela ignorância ou opressão originada nas estruturas da sociedade. Jesus assume o papel de apenas um exemplo moral e não como o verdadeiro e divino salvador. Dessa forma, os conceitos de salvação e evangelismo são deturpados de maneira hedionda. A salvação não mais livra do inferno, mas das estruturas da sociedade que oprimem o ser humano, e o evangelismo não é mais anunciar Cristo ao mundo, mas trabalhar contra ou por meio dos centros de poder que oprimem os injustiçados.
Isso torna a noiva de Cristo um paraíso de tolos onde cegos guiam cegos e caminham a passos largos para o inferno. Um paraíso de tolos onde a placa denominacional está acima do senhorio de Cristo e da autoridade das Sagradas Escrituras. Um paraíso de tolos edificado sobre a areia, onde o centro de tudo é o homem corrupto e não o Deus soberano, perfeito, santo e incorruptível que criou todas as coisas por sua soberana vontade e infinito poder.
A igreja se tornou um paraíso de tolos ao se acomodar com uma cultura torpe e vil que impera sobre o mundo, e por inventar uma espécie de cristianismo onde tomar a cruz tornou-se uma opção ou, até mesmo, impróprio e porque não dizer, um insulto.
Quando a igreja se torna um paraíso de tolos incorporando os valores do mundo, o cristianismo ensinado e vivido por ela encontra-se moribundo, assim o mundanismo e a auto-indulgência vêm se alastrando de maneira devastadora devorando o coração da igreja. Nesse paraíso de tolos, o evangelho é tão deturpado que oferece o acreditar em Cristo como nada mais do que um simples meio para contentamento e prosperidade, e assim o escândalo da cruz (Gl 5.11) tem sido escanteado de maneira que a mensagem se torne mais amena e aceitável para os incrédulos.
Contudo, se a igreja não promover um retorno ao cristianismo bíblico, logo testemunharemos o fim de sua influência em nome de Jesus, e dessa forma ela tornar-se-á plenamente e irrevogávelmente um paraíso de tolos.
Encerro esse texto com algumas palavras do príncipe dos pregadores ditas no séc. XIX e que nos mostram que o paraíso dos tolos já era uma preocupação desde os seus dias: “Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.” (Charles Haddon Spurgeon)
Joel da Silva Pereira