No
inicio dos anos de 1970 o Doutor Martyn Lloyd-Jones fez a seguinte pergunta:
“Qual é a principal finalidade da pregação?” essa pergunta é muito relevante
hoje, pois em dias que a verdadeira pregação do evangelho da graça de Cristo
vem sendo fragmentada e deturpada, temos que respondê-la com amor e fervor.
Contudo, o próprio Doutor nos fornece a resposta à sua pergunta. Responde
Lloyd-Jones: “A finalidade da pregação, gosto de pensar que é esta: dar aos
homens e mulheres o senso de Deus e de sua presença”.
A
presença de Deus é algo que hoje não é mais necessário nas pregações. É
necessário apenas mostrar as bênçãos, vitórias e triunfos que Deus pode
conceder, e nada mais. Mas, a pregação não é apenas tolhida nesse aspecto onde
Deus não é o centro. As igrejas hoje estão cada vez mais restringindo o tempo
destinado a exposição das Sagradas Escrituras.
As
igrejas convidam inúmeros grupos de louvor que cantam uma enorme quantidade de
músicas, e o pior, músicas sem conteúdo bíblico que apenas massageiam o ego
humano e o infla ainda mais. Também encontramos as inúmeras oportunidades
concedidas a alguma pessoas, e maioria delas não tem intimidade com o púlpito e
muito menos com a Palavra de Deus, mas por ocuparem algum cargo (e eu nem sei
como e nem porque os ocupam) são convidados a estarem trazendo uma “saudação”,
e quanto mais músicas e saudações menos tempo para a exposição da Palavra de
Deus.
As
igrejas infelizmente não enxergam mais como prioridade apresentar o evangelho
da graça de Cristo em sua totalidade. Apenas apresentam textos fora de
contextos e maquiam e deturpam as Sagradas Letras. Mas a culpa disso recai acima de tudo por uma
liderança omissa que ao que parece perdeu o seu senso de compromisso para com
Deus e com sua rica e bendita Palavra. Martyn Lloyd-Jones prossegue em sua
defesa da pregação cristocêntrica e diz: “pregar é a atividade mais admirável e
emocionante na qual um homem pode se envolver, por causa do que ela nos
proporcionar no presente e das gloriosas e infindas possibilidades no futuro
eterno”, essa afirmação deveria gerar nos pregadores atuais um senso de
compromisso que o façam voltar a uma exposição clara e fiel das Escrituras. Mas, o profeta Oséias estava mais do que certo ao asseverar que o povo de Deus está
sendo destruído porque lhe falta conhecimento (Os 4.6). Vivemos um sério e
terrível quadro de analfabetismo bíblico, daí a incoerência nos cultos das
igrejas hoje. Intermináveis períodos de louvor, não que eu seja contra o
louvor, longe disso, mas que deveríamos dispensar mais tempo para a ministração
da Palavra de Deus.
Em
seu livro O Legado da Alegria Soberana (que indico) John Piper ao discorrer
sobre a vida de três dos maiores teólogos da história da cristandade, a saber,
Santo Agostinho, Martinho Lutero e João Calvino, enfatiza a importância que as
Sagradas Escrituras tinha na vida de cada um deles. Ao mergulharem no estudo esmerado da Bíblia e
na proclamação das suas verdades, esses três devolveram a Bíblia e sua exposição
ao seu lugar de direito. Eles regataram a centralidade da pregação nos cultos e
também à importância do estudo sistemático da Bíblia para o aperfeiçoamento
pessoal e acima de tudo para a boa exposição de maneira fiel e coerente das Santas Letras.
Um legado rico e genuinamente saudável, mas que por causa de uma geração
negligente que se recusa a estudar a Palavra de Deus e pregá-la com exatidão,
amor e devoção, é desprezado e a cada dia esquecido.
Não
existe mais uma preocupação com o conteúdo da pregação, com o preparo do
pregador, pior, quase não se dá mais importância à pregação num culto, pois seu
espaço é cada vez mais limitado e quando alguém sobe ao púlpito, nota-se o
despreparo e a falta de intimidade com a palavra.
Os pregadores
modernos se esqueceram de que o evangelho é o poder de Deus (Rm 1.16) e o
tratam como uma mercadoria que pode ser comercializada de acordo com a
preferência do cliente. Tais pregadores estão distantes das palavras do Dr.
Martyn Lloyd-Jones: “a obra da pregação é a mais elevada, a maior e mais
gloriosa vocação para a qual alguém pode ser chamado”.
Quase
não existe mais apreço pela gloriosa obra da pregação das verdades do evangelho
da graça de Cristo, e creio que não há mais amor por tal tarefa, pois ela está
cada vez mais banalizada. O legado dos grandes pregadores, a exemplo de
Spurgeon, Jonathan Edwards, George Whitefield, John Wesley, D. L. Moody, Martyn
Lloyd-Jones, John Stott e muitos que pregaram com amor e devoção a Palavra de
Deus, está sendo deturpado e banalizado.
Pregações
e Pregadores precisam ser revitalizados. A pregação precisa voltar a ter a
primazia nos cultos. Os pregadores precisam parar de brincar de serem pregadores
e passarem a sê-los verdadeiramente. E ainda falando sobre os pregadores deixo
o exemplo de John Bunyan nas palavras do grande Spurgeon, disse ele: “Corte-o
em qualquer lugar e você descobrirá que o seu sangue é cheio de Bíblia. A
própria essência da Bíblia fluía dele. Ele não pode falar sem citar um texto,
pois sua alma está repleta da Palavra de Deus”. Será que essa verdade sobre
John Bunyan pode ser aplicada aos pregadores modernos?
Que
Deus tenha misericórdia de nós e nos
ajude!!!
Soli
Deo Gloria!!!
Joel
da Silva Pereira