Em
tempo de incertezas doutrinárias e de uma fé mercadológica chovem pregações
triunfalistas e a cada dia surge uma nova leva de pregadores extravagantes. O
que aconteceu com o verdadeiro evangelho da graça de Cristo? O que aconteceu
com aqueles que se diziam arautos do evangelho? A resposta nos salta das
páginas das Santas Letras: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; pelo contrario, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceiras nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à
verdade, entregando-se às fábulas” (II Tm 4.3-4). Hoje, em muitos púlpitos, a
sã doutrina não é mais pregada, ensinada e muito menos defendida, pois ela
causa coceiras nos ouvidos depravados da platéia.
Hoje
ao que parece pregar o evangelho da graça de Cristo é uma blasfêmia. Pregar o
evangelho da graça de Cristo é nadar contra a maré, uma vez que a moda é pregar
o que o homem totalmente depravado e morto em seus delitos e pecados quer
ouvir; uma mensagem que massageie o seu já tão inflado ego. Quem se propõe a
pregar exatamente o que as Escrituras revelam é tido como antiquado,
ultrapassado e ainda como fundamentalista. Confesso que prefiro ser antiquado,
ultrapassado e até mesmo fundamentalista do que mercadejar a minha fé. Não
posso salvar ninguém do inferno, mas, posso tornar alguém “duas vezes mais
filho inferno” por pregar algo que é totalmente contrário ao evangelho da graça
de Cristo (Mt 23.15).
Os
pregadores que hoje mercadejam a fé, a vocação e o ministério deveriam repensar
se foram mesmo chamados por Deus para estarem à frente do rebanho de Cristo. Para
Lutero, “quem não prega a palavra, para o que foi chamado pela igreja, não é
sacerdote de maneira alguma”. Os pregadores que não pregam mais o evangelho da
graça de Cristo, e sim um pseudoevangelho, mutilam suas mensagens,
açucarando-as, dando enfatizando as benesses do Evangelho e ocultando assim a
santa e justa ira de Deus, a necessidade de arrependimento e os custos do que
significa realmente seguir a Cristo, pois os que querem viver piedosamente em
Cristo serão perseguidos (II Tm 3.12).
O
evangelho deve ser pregado de maneira integral. Devemos denunciar
categoricamente o pecado, asseverando que o homem morto em delitos e pecados
está condenado a passar a eternidade no inferno, e que somente quando o
Espiríto Santo de Deus o convencer do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8) e
gerar nele um verdadeiro arrependimento e assim a regeneração é que ele terá
uma nova vida em Cristo e que essa vida não pode ser alcançada por méritos
humanos, pois, como bem asseverou o profeta Isaías nós somos como o imundo e
nossas justiças como trapos de imundícia (Is 64.6). A salvação pertence
totalmente ao Senhor (Jn 2.9)! É um erro e um desvio sério ensinar que o homem
por si só pode alcançar a salvação no momento que lhe convier. Se assim fosse a
Bíblia estaria mentido ao asseverar que tudo depende de Deus exercer sua rica
misericórdia ou endurecer o coração do homem (Rm 9.14-18), esse texto deixa
mais do que claro que o homem não contribui em nada para a sua salvação.
Todavia, isso não é mais pregado na maioria dos púlpitos das igrejas hoje, pois,
pregar isso é ser radical, fundamentalista, podendo até ser chamado de herege.
O
pastor congregacional Jonathan Edwards escrevendo acerca os pastores de seu
tempo asseverou: “devemos ser fiéis em cada parte das nossas obras
ministeriais, e nos empenhar para magnificar nosso ofício. De maneira particular,
devemos atentar para a nossa pregação, a fim de que ela seja não apenas sã, mas
instrutiva, temperada, espiritual, muito estimulante e prescrutadora”. Creio
que os mercadores da fé de hoje não dariam valor a essa assertiva por ela ir
contra todo o sistema legalista de um evangelho pragmático que hoje se instalou
e que se alastra avassaladoramente pelo seio da igreja. Acredito também que o
excelente livro: O Pastor Aprovado,
do pastor puritano Richard Baxter seria refutada pelos pastores da moda de
hoje, uma vez que o livro exorta contra tudo o que esse pseudoevangelho que se
prega hoje.
Precisamos
de vozes que clamem nos desertos hoje, a exemplo de João Batista. Chega de
falsos pastores que tomam para si títulos e nomenclaturas que não lhes convêm e
que só enganam as massas com um pseudoevangelho cheio de afetos, carinhos, que
nada têm do verdadeiro conteúdo do evangelho da graça de Cristo. Nas palavras
do pastor Paulo Cezar do grupo Logos: “eu sinto verdadeiro espanto no meu
coração em constatar que o evangelho já mudou”, essa canção do ano de 1996 já
trazia a tona uma preocupação importante no tocante à deturpação do evangelho,
deturpação essa que vivenciamos hoje de uma forma ainda mais nociva do que na
década em que essa canção foi composta.
O
Dr. Sinclair Ferguson diz “hoje há uma necessidade gritante de uma pregação da
Palavra de Deus de forma mais clara, minuciosa, essencial, simples e, contudo,
profunda, perscrutando os corações e iluminando as mentes. Não precisamos de
mais pregadores famosos. O que precisamos é de mais pregadores residentes,
eruditos e piedosos”. Precisamos de pregadores que amem e vivam de acordo com
as Escrituras e que amem acima de tudo o Senhor das Escrituras que os convocou
para o sagrado ministério. Que os pastores sejam homens santos, humildes,
fiéis, amorosos, homens de oração, estudiosos, zelosos, evangelizadores,
persistentes e ungidos pelo Espiríto Santo.
Que
Deus tenha misericórdia de nós e nos ajude!!!
Soli
Deo Gloria!!!
Joel
da Silva Pereira