“E nos dedicaremos à oração e ao
ministério da palavra” (At 6.4).
Esse foi o discurso dos apóstolos no
tocante a disputa que havia na igreja primitiva acerca da distribuição diária
dos alimentos. Temos aqui a instituição do diaconato. Mas, o que queremos
ressaltar é a fala dos apóstolos: “E nos dedicaremos à oração e ao ministério
da palavra” (At 6.4). Não que seja algo degradante ou humilhante servir as
mesas, pelo contrário era algo de suma importância. Todavia os apóstolos sabiam
da importância e tinham convicção daquilo para o qual foram chamados.
Esse discurso dos apóstolos precisa
ser resgatado urgentemente. Há uma falência grande nos púlpitos hoje. Vemos pessoas
sendo mal alimentadas por mera negligência ou até por falta mesmo de conhecimento por parte de seus líderes. Se por um lado há uma falência, por outro há o terrível perigo de uma ortodoxia
seca, árida e por muitas vezes morta. Uma ortodoxia exacerbada sem nenhum grau de piedade.
No texto de Atos (At 6.4) vemos o equilíbrio dos apóstolos em regar o ministério da palavra com uma vida de oração. Não há como divorciar a oração da palavra e ao mesmo tempo ter um ministério frutífero. É-nos mais do que necessário uma vida séria de oração aos pés da cruz de Cristo para que o Espírito
Santo nos traga iluminação acerca da palavra de Deus. Se olharmos para a
história da igreja, perceberemos que todo grande expositor das Escrituras eram
homens de oração. Calvino, Lutero, Wesley, Whitefield, Spurgeon, Edwards e
tantos outros, tinham vidas regadas pela oração.
O ativismo tem roubado de nós horas
preciosas na presença do Senhor. Temos tempo pra tudo em nosso tão atarefado dia, menos para nos debruçarmos sobre o Santo Livro e nem para dirigirmos súplicas
ao Santo Deus. O que eu acho incrível e ao mesmo tempo muito triste é que Deus
vem falando desde o Antigo Testamento sobre isso e até hoje fazemos ouvido de
mercador. O profeta Malaquias nos exorta da seguinte forma: “Porque os lábios
do sacerdote devem guardar o conhecimento, e de sua boca todos esperam a
instrução na lei, porque ele é o mensageiro do Senhor do Exércitos” (Ml 2.7), e
como se não bastasse essa exortação de Malaquias ainda temos a assertiva dos
apóstolos.
A dedicação ao estudo da Palavra e à
oração é algo raro hoje em dia. Vemos um combate infantil no meio cristão entre dois grupos.
Aqueles que estudam e se dedicam à busca do conhecimento e os que se dedicam
apenas a buscar uma espiritualidade profunda. E em meio a esses dois grupos, um
combate, os que buscam o conhecimento chama os espirituais de ignorantes
bíblicos, já os que buscam a espiritualidade profunda se defendem dizendo que “a letra
mata!” E quem perde com o isso? O Reino de Deus.
Atentemos para as palavras dos apóstolos... “oração
e palavra”. A ortodoxia deve sempre ser
acompanhada pela vida de piedade. Esse foi um dos legados dos puritanos. Eles
procuravam viver uma vida de intensa piedade alicerçada, é claro, nas Escrituras.
Eles entenderam a assertiva dos apóstolos e a viveram intensamente para a
glória de Deus. Infelizmente hoje mais do que qualquer outra época vivenciamos esse combate
infantil em uma larga e crescente escala. Aqueles que alcançaram um certo grau de conteúdo teológico se julgam melhores
que os demais. No meio reformado, infelizmente ao que parece, as
pessoas são medias pelos títulos e não pelo seu caráter, testemunho e frutos. Não estou
desmerecendo o conhecimento, de maneira nenhuma, pois a exortação de Oséias
queima em meu coração: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta
conhecimento!” (Os 4.6) O conhecimento é mais do que necessário, mas sem a
iluminação e a unção do Espírito Santo não passa de mero conhecimento.
Outro exemplo de comunhão entre a
ortodoxia e a piedade vem dos Morávios. Eles passaram 120 anos em oração
ininterruptamente, tudo isso para que fossem revestidos de poder do alto para
que pudessem se entregar sem reservas ao serviço do Senhor. Voltando à Bíblia
encontramos Jesus exortando os seus apóstolos que para que pudessem realizar a
obra de Deus necessitariam de revestimento de poder do alto. Esse revestimento ocorreu
no dia de pentecoste e após o ocorrido Pedro se levantou e pregou poderosamente
a Palavra e, pela graça, 3000 almas foram salvas por Deus, mas para que tão extraordinária salvação
ocorresse foi preciso revestimento de poder. Pedro já tinha o conhecimento,
pois tinha sido doutrinado pelo Supremo Pastor e Mestre, mas lhe faltava poder.
E o revestimento só veio (claro que era uma promessa e certamente iria acontecer) depois de intensas
reuniões de oração. Oração e Palavra não podem ser divorciadas pelo ego
humano. Quer seja pela ênfase dada ao conhecimento pelos reformados quer seja
pelas experiências espirituais dos pentecostais, precisamos entender que o que
os apóstolos propuseram em At 6.4 está longe de ambas as ênfases. Sou reformado
e creio numa ortodoxia regada pela fervorosa e sincera oração, e não somente no
conhecimento pelo conhecimento como muitos reformados creem. Creio no Santo
Espírito de Deus, mas não posso concordar com as sandices e os desatinos
promovidos pelos pentecostais. As coisas de Deus requerem decência e ordem (I
Co 14.40).
Nesse primeiro artigo de 2017 quero
que repensemos nossas atitudes no tocante a nossa vida devocional. Temos muito o
que aperfeiçoar e em contrapartida (e acima de tudo) mais ainda para sermos aperfeiçoados por
Deus. O tempo que dedicamos à oração e estudo da palavra precisam ser revistos. A qualidade desse
tempo também precisa ser corrigida. Tudo isso deve ser revisto.
A nossa negligência deve ser abandonada e precisamos voltar as Sagradas Letras
o quanto antes. Precisamos também entrar em nossos quartos fechar a porta e
orar ao Pai que está em secreto (Mt 6.6).
Que Deus tenha misericórdia de nós e
nos ajude!!!
Soli Deo Gloria!!!
Joel da Silva Pereira