A idade média foi o tempo da ascensão da igreja e da decadência da espiritualidade. A igreja romana se considerava a dona do mundo, a representante única e exclusiva de Deus. Todavia, ele tinha poder político e econômico, porém era totalmente desprovida de poder espiritual (será que é diferente hoje não só com a igreja romana, mas com muitas das igrejas tidas como cristãs?).
Tendo tamanho poder, a igreja mantinha os seus fiéis no analfabetismo e na mais profunda ignorância acerca das Escrituras Sagradas. Assim, a religião estava sobre a égide de Roma. Ela detinha o poder da administração da salvação, chegando a afirmar que fora dela (e não de Cristo) não havia salvação. Através dos sacramentos e da venda de indulgências, os fiéis eram enganados e compravam a absolvição dos seus pecados a peso de ouro, e em troca recebiam a bula papal que lhes garantiam o tão desejado perdão, algo totalmente contrário ao ensino da Escrituras.
A realidade do século XVI relatada pela história não é tão diferente da que vivenciamos hoje. Os dogmas, desvios doutrinários e indulgências ainda estão assolando o mundo e o pior com máscaras de cristandade. São as igrejas tidas como “cristãs” que estão resgatando essa imundície e a travestindo com uma capa de cristandade e assim enganando a muitos. Essa imundície assola o meio cristão e deturpa a sã doutrina!
Porém, o que foi a tão afamada Reforma Protestante do século XVI? Inúmeras pessoas pensam que reformar significa inovar, abrindo caminho à criatividade doutrinária, metodológica e cúltica. Para outras pessoas reforma implica em inovações, agregando a igreja uma teologia contextualizada, que responda aos desejos do povo. Contudo, isso foi a tese do liberalismo teológico do século XIX, que tinha o homem como o centro de tudo, ensino mais do que distante do protestantismo cristocêntrico (esse ensino antropocêntrico está em moda hoje!).
Ao voltarmos os nossos olhos para o movimento da reforma do século XVI, não vemos essas inovações. Contemplamos a imensa e desgastante luta do Dr. Martinho Lutero em combater exclusivamente esse tipo de inovações que implicavam na disseminação dos mais absurdos ensinos heréticos no seio da igreja cristã de então.
Lutero entendeu que reformar não implicava em inovar a teologia ou a liturgia, mas sim, em restauração. Uma restauração e uma redescoberta daquilo a muito perdido durante a era das trevas, quando as Escrituras deixaram de ser o alicerce doutrinário da igreja, sendo substituída pelas tradições resultantes dos concílios. Dessa forma, a reforma protestante não se caracterizou como um movimento inovador, mas de restauração. Um retorno às origens, uma volta às Escrituras Sagradas (precisamos urgente desse retorno novamente hoje!).
Um dos tesouros descobertos pela reforma foi a “Sola Scriptura”, que era, e é, um retorno exclusivo às Escrituras Sagradas e a ela somente, ou seja, um reconhecimento pleno da supremacia da Palavra de Deus. O propósito era a pregação e a exposição da santa palavra de Deus, ensinada, lida e vivida como a regra única de fé e prática, como único fundamento que deve ser o fiel da balança em todas as decisões.
É assustador perceber hoje, as pessoas buscando inovações e novidades, baseadas em movimentos carismáticos, pentecostais e neo-pentecostais, importados de outros países, que nada mais são do que fogo de palha e invenções de homens que se dizem arautos de uma nova revelação de Deus, mas que de Deus e de sua palavra nada têm.
É necessário reformar, e este era o lema do grande mestre francês João Calvino: “Igreja reformada, sempre se reformando”, todavia, é muito importante entender que tal reforma não é inovação, modernização do conteúdo da fé, mas sim a restauração da compreensão desse conteúdo. Dessa maneira, a questão não se impõe com novos métodos, mas sim, com o velho método, que implica numa volta à palavra de Deus, para extrair dela o que ela realmente ensina. A Palavra de Deus é a referência. Contudo, vivemos uma crise espiritual avassaladora que nos tem levado a um total abandono da nossa tão cara herança teológica reformada.
Quando em nossas mentes surge a data 31/10, somos automaticamente levados a pensar no dia das bruxas. Tudo isso porque estamos imersos num tremendo analfabetismo histórico e acima de tudo bíblico que grassa os arraiais cristãos atualmente. É como uma doença que corrói a igreja. Um tumor maligno que deve ser extirpado o quanto antes. Assim, a igreja deixa de ser sal e luz. Em vez de a igreja abalar e transformar o mundo, é o mundo que está abalando a igreja. Algo que é contrário a vontade de Deus. Deus quer que sejamos cristãos que reflitam uma fé inabalável Nele, uma confiança que nos torna capazes de encararmos a vida religiosa moderna em toda a sua realidade e complexidade, e a permanecermos fiéis apesar de todas as agruras que ela nos propiciará
Estamos precisando, e o quanto antes, de uma nova reforma!!!
E não pense que Deus levantará Lutero do túmulo para promover tal reforma. Cabe a nós buscarmos e proclamarmos essa reforma!!
Que Deus tenha misericórdia de nós e nos ajude!!!
“Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est!!”
Soli Deo Gloria!!!
Joel da Silva Pereira