A
pregação triunfalista se alastrou de forma avassaladora e vem deturpando cada
vez mais o verdadeiro evangelho da graça de Cristo. Ela tomou conta de uma
grande parte dos púlpitos modernos e trouxe de volta consigo uma verdadeira
praga para o cristianismo, a saber, o antropocentrismo. O homem, agora,
tornou-se o centro do evangelho que é pregado nas igrejas hoje e Deus é visto
apenas como um mero despenseiro da vontade vil e egoísta do homem. E com isso
surgem vários tipos de bizarrices, tais
como: em algumas orações o homem coloca Deus contra a parede e o obriga a
realizar a sua vontade, ou seja, o homem se torna soberano e Deus um mero servo
de sua perversa vontade; a vontade do homem é sim perversa.
O
que mais me espanta é que “os cristãos” acham isso normal e encaram como se
fosse algo bíblico, uma vez que alguns grupos que se dizem cristãos cantam
músicas que apoiam essa deturpação clara do evangelho e dessa forma essa doença
se alastra e toma conta da igreja moderna gerando uma séria crise na vida da
igreja. Uma crise entre o SER e o TER.
A pregação triunfalista ensina que o homem tem
direito a TER tudo o que ele deseja, pois a Bíblia assim ensina e o grupo tal
também canta canções que dizem isso também.
Hoje,
o cristão só é abençoado se tiver uma vida na qual desfrute de uma situação
financeira que lhe conceda um bom status social e que possa ser invejado pelos
demais. Não sou contra a prosperidade na
vida desde que ela venha do fruto do trabalho do homem e que Deus seja
glorificado por meio dela, mas fazer dela o parâmetro de uma vida abençoada
isso é antibíblico e sou totalmente contra, pois isto é servir a Mamom e não a
Deus.
O cristão é levado e ensinado a TER e quanto
mais ele tem mais se convence de que não tem o bastante e assim ele prossegue
numa busca insaciável por TER e por essa causa ele se aproxima de Deus exigindo
que suas orações egoístas sejam respondidas imediatamente, pois se não
responder Deus não é Deus e é um mentiroso, pois disse em sua palavra que
bastava pedir em seu Nome que a oração seria respondida.
Todavia,
quando examino as Sagradas Escrituras me deparo com seguinte texto: “Assim,
quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória
de Deus” (I Co 10.31), que me ensina que tudo o que tenho que fazer como
cristão deve glorificar a Deus e isso inclui também as minhas orações. Ao ler e estudar um texto como esse não posso
crer que o parâmetro de uma vida abençoada seja o TER, mas sim o glorificar a
Deus. “Os cristãos” estão se acostumando a celebrar e glorificar a bênção e
estão se esquecendo, ou melhor, estão ignorando que “toda boa dádiva” procede
do Pai das luzes e Ele sim deve ser celebrado, adorado e glorificado ao invés
da bênção.
As
Santas Letras nos ensinam que devemos SER cristãos que tomam sua cruz e que
negam a si mesmos; SER aqueles que colocam a mão no arado e não olham para
trás; SER santo como santo é nosso Deus; SER transformado pela renovação da
nossa mente. Não encontro nenhuma passagem que me ensine que eu deva TER todas
as minhas orações respondidas ou que me digam que Deus é obrigado a atender
todas as minhas orações mesmo que sejam egoístas e vis.
Ao
olhar para a história da cristandade, encontro os puritanos ingleses que
procuravam viver suas vidas em plena harmonia com a Bíblia (não estou
defendendo que eles eram perfeitos, uma vez que todos pecaram) e a única coisa
que eles almejavam TER era “a mesma atitude que Jesus Cristo tinha” (Fp 2.5), algo
que está muito longe de nós hoje. Os
grandes reformadores também tinham essa visão de que o SER era mais importante
e agradava mais a Deus do que o TER, porém, os cristãos de hoje estão querendo
mais agradar a si mesmos do que a Deus, e enquanto tiverem bitolados e
entupidos pela má teologia propagada dos púlpitos e endossadas pelas canções de
grupos que ensinam que TER é melhor que SER será difícil que venham a viver um
evangelho autêntico e bíblico.
Numa
época em que a bênção é mais valorizada e celebrada do que o Deus que concede a
bênção é um sinal para que fiquemos alertas e sejamos ainda mais vigilantes e
sóbrios. Não podemos nos deixar corromper pela pregação triunfalista e sim nos
atermos às bíblicas doutrinas da graça, a saber, a depravação total, a eleição
incondicional, a expiação limitada, a graça irresistível e a perseverança dos
santos. Tais doutrinas foram pregadas e ensinadas pelos grandes reformadores, a
exemplo de Calvino e Knox, e que foram resgatadas por Whitefield, Spurgeon e
Edwards. Além das santas doutrinas da graças devemos resgatar também os
princípios bíblicos apregoados e defendidos veementemente durante a reforma
protestante que, ficaram conhecidos como os cinco solas: Sola Scriptura, Sola
Gratia, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria.
Que
Deus tenha misericórdia de nós e nos ajude no resgate das antigas e bíblicas
doutrinas da graça e no resgate dos princípios da reforma protestante!!!
Soli
Deo Gloria!!!
Joel
da Silva Pereira