sábado, agosto 18, 2012

Piedade!!!


O teólogo Errol Hulse define piedade: “Piedade é uma constante cultura da vida interior de santidade diante de Deus e para Deus, que por sua vez se aplica em todas as outras esferas da vida prática. Piedade consiste de oração junto ao trono de Deus, estudo de sua Palavra em sua presença e a manutenção da vida de Deus em nossas almas, que afeta toda a nossa maneira de viver”.
Um cristão sem piedade é um desastre. Indo mais a frente, A. W. Tozer diz que: “santos sem santidade são a tragédia do cristianismo”. A piedade e santidade que os pregadores proclamam hoje dos púlpitos é destruída pela impiedade de suas vidas.
O declínio da piedade hoje se deve ao fato do enorme desvio doutrinário que a igreja enfrenta hoje. A igreja a cada dia se desvia a passos largos das Sagradas Escrituras. O profeta Oséias exortou séculos atrás que o povo de Deus estava sendo destruído porque lhe faltava conhecimento (Os 4.6). Piedade é algo que hoje para a maioria dos que se professam cristãos beira a heresia, pois é tão deprimente a pregação hoje que não promove nenhum estímulo na vida do cristão que o leve a um cultivo de uma vida de piedade.
Para o grande teólogo e reformador francês João Calvino pietas (piedade) designa a atitude correta do homem para com Deus. É uma atitude que envolve conhecimento verdadeiro, adoração sincera, fé salvadora, temor filial, submissão e amor reverentes. Saber quem e como Deus é (teologia) envolve atitudes corretas para com Ele e fazer o que Ele deseja (piedade). Em seu primeiro catecismo Calvino escreveu: “A verdadeira piedade consiste em um sentimento verdadeiro que ama a Deus como Pai e O reverencia como Senhor; apropria-se de sua justiça e teme mais o ofendê-Lo do que enfrentar a morte”.
Nas Institutas da Religião Cristã Calvino é mais sucinto: “Chamo de piedade aquela reverência unida ao amor de Deus, o amor que é fruto do conhecimento de seus benefícios”. Essas assertivas estão longe de serem vivenciadas pelos cristãos hoje, pois nada do que é pregado hoje nos púlpitos das igrejas remetem a essas verdades, salvo raríssimas exceções (graças a Deus), mas em quase sua totalidade o conteúdo das pregações estão distantes do que foi asseverado pelo reformador. Assim para Calvino “toda a vida dos crentes deve ser um tipo de prática da piedade”.
No sermão do monte Jesus exorta que a justiça dos cristãos deve exceder a dos fariseus e mestres da Lei.  De igual podemos entender que a piedade dos cristãos deve exceder também a dos fariseus e dos mestres da Lei. Contudo, a piedade que é vivida hoje é uma piedade farisaica cheia de ostentação e pompa, motivada pela vaidade e recompensada pelos homens. Mas, a verdadeira piedade ensinada e vivida por Cristo é secreta, motivada pela humildade (artigo em extinção hoje entre os cristãos) e recompensada por Deus.
O alvo da piedade farisaica que é vivenciada hoje não é Cristo, mas sim as recompensas materiais que Ele pode nos conceder por vivermos de modo piedoso. Outro fato que os cristãos ignoram é que os verdadeiros cristãos que querem viver de modo piedoso sofrem perseguições (II Tm 3.12). O conceito de piedade hoje passa por uma série de recompensas concedidas por Deus a todos os que vivem “piedosamente” e a privação de sofrerem quaisquer infortúnios. Para muitos, hoje, sofrer é um sinal de uma vida em pecado, longe da presença de Deus e não de piedade. Será que esses que defendem tal argumento não leem na Bíblia acerca da vida do apóstolo Paulo e sobre os seus sofrimentos? Será que tais sofrimentos eram consequência de uma vida de pecados ou de uma piedade rigorosa que honrava a Deus e que humilhava o homem? O alvo da piedade e da vida cristã a muito tempo deixou de ser Cristo e passou a ser as recompensas que podemos alcançar em Nome Dele e por conta disso surge toda sorte de bizarrices e doutrinas contrárias ao evangelho da graça de Cristo.
O pastor e teólogo reformado holandês Joel Beeke diz: “o alvo da piedade, bem como de toda a vida cristã, é a glória de Deus – a glória que resplandece nos atributos de Deus, na estrutura do mundo, na morte e na ressurreição de Jesus Cristo. No que diz respeitos a todos os que são verdadeiramente piedosos, o glorificar a Deus supera a salvação pessoal”. A piedade cristã autêntica é referendada pelo SOLI DEO GLORIA, pois toda a nossa vida deve ser vivida pra a glória de Deus (I Co 10.31). De acordo com Calvino o homem piedoso confessa: “Somos de Deus; vivamos e morramos para Ele. Somos de Deus; sejamos governados por sua sabedoria e vontade em todos os nossos atos. Somos de Deus; em harmonia com isso, devemos segui-Lo como nosso único objetivo lícito, em todos os aspectos de nossas vidas”. Ao analisarmos nossas vidas sobre a óptica dessa assertiva de Calvino observamos que vivemos em uma deturpação incrível e bem distante dos ideais bíblicos que deveriam nortear nossas vidas.  
Joel Beeke prossegue: “Deus redime, adota, santifica o seu povo, para que sua glória resplandeça nele e o liberte da busca pelo egoísmo ímpio. O profundo interesse do homem piedoso é Deus mesmo e suas coisas – sua Palavra, sua autoridade, seu evangelho, sua verdade. O homem piedoso tem intenso desejo de conhecer ais a Deus e de ter mais comunhão com Ele como seu único alvo”. Todavia nos perguntamos como poderemos glorificar a Deus, para obtermos tal reposta nos voltamos para Calvino: “Deus nos prescreveu uma maneira pela qual Ele pode ser glorificado por nós, a saber, a piedade, que consiste na obediência à sua Palavra. Aquele que ultrapassa esses limites não está honrando a Deus; pelo contrário, está desonrando-O”.
Encerro este artigo citando novamente Joel Beeke e na sequência João Calvino. Joel Beeke diz: “A obediência à Palavra de Deus significa refugiar-se em Cristo para perdão dos nossos pecados, conhecê-Lo por meio de sua Palavra, servi-Lo com um coração repleto de amor, praticar boas obras em gratidão a sua bondade e exercitar a autorrenúncia, a ponto de amar os nossos inimigos. Esta resposta envolve total rendição a Deus mesmo, à sua Palavra e à sua vontade”. Já o teólogo e reformador francês João Calvino disse: “Ofereço-te o meu coração Senhor, sincera e imediatamente”. Esse é o desejo de todos os que são verdadeiramente piedosos. Porém esse desejo só é possível de ser realizado apenas por meio da comunhão com Cristo e participação Nele; pois, longe da pessoa de Cristo, o homem religioso vive apenas para si mesmo, ou como dissemos antes, vive uma vida piedosa de ostentação que é motivada pela vaidade e recompensas humanas. E apenas em Cristo os piedosos podem viver como servos voluntários, soldados leais e valorosos de seu Comandante; filhos obedientes do seu Eterno e Soberano Pai.

Que Deus tenha misericórdia e nos ajude!!!

Soli Deo Gloria!!!

Joel da Silva Pereira


quarta-feira, agosto 08, 2012

Avivamento!!!


“Aviva a tua obra, ó Senhor...” Essa foi a oração feita pelo profeta Habacuque e que hoje em dia é tão repetida por muitos cristãos que estão em busca de um avivamento. O que eu acho mais interessante é que as pessoas pedem por avivamento sem ao menos saber o que é Avivamento. Não se tem uma definição própria do que seja um avivamento, mas se pudéssemos definir o mais coerente seria seguir a definição do presbítero Rubem Amorese, que disse que avivamento é “o resultado da ação do Espírito Santo na vida do crente, enchendo-o e habilitando-o para cumprir a vontade do Senhor no seu contexto específico de vida, tendo também a conotação coletiva de um movimento; é resultado também da ação (permissão, ou submissão) do homem, no sentido de buscar a santidade e de se deixar encher por Deus”. O verdadeiro avivamento irrompe quando a igreja cristã está enfrentando crises seja por pecado, seja por apatia, desobediência e desvirtuamento das Sagradas Escrituras ou de sua vocação e missão.
Olhando para a história da cristandade vemos maravilhosos relatos de grandes avivamentos, a exemplo, do que houve na Inglaterra nos tempos dos irmãos Wesley (John e Charles) e de seu amigo Whitefield, e tempos depois com o príncipe dos pregadores, o grande Charles Spurgeon que por meio do seu ministério foi usado como precursor de um grande avivamento em seus dias na Inglaterra do século XIX. E não podemos deixar de mencionar o povo morávio que passou um século inteiro de oração. Ação que impulsionou os morávios a um despertamento e empreendimento missionário jamais novamente visto na história da cristandade. Tal foi o impacto desse século inteiro de oração que o Espírito Santo foi derramado sobremaneira na vida desse povo, a ponto de alguns moravianos se entregarem como escravos para alcançar povos não alcançados nos cantos mais remotos do mundo.   
Por conta de uma visão deturpadas de algumas igrejas, os cristãos não sabem o que significa avivamento. Para esses, avivamento é uma série de bizarrices, que nada tem a ver com o derramar do Espírito Santo como vemos no relato do capítulo dois do livro de Atos, onde podemos ver a verdadeira manifestação sobrenatural do Espírito Santo. Hoje, o que vemos e ouvimos é um deturpar de uma tão maravilhosa ação divina onde gritarias, urros e toda sorte de meninice é qualificada como sendo o agir do Espírito Santo no meio da igreja. Nada do que vemos se enquadra com os exemplos de avivamentos ao longo da história da cristandade e muito menos com os relatos bíblicos do derramar do Espírito Santo. O verdadeiro avivamento não tem nada a ver com gritos, unções esquisitas, que surgem de tudo quanto lugar, tais como: unção do riso, unção do leão, unção do urso, unção o cão. Haja bizarrice! E ainda tem o cair no “espiríto”. Confesso que já li a Bíblia completa algumas vezes e em nenhum dos seus inspirados 66 livros encontrei nenhuma dessas unções e outras bizarrices. E uma coisa que me deixa ainda mais intrigado é que ministérios notórios são adeptos dessas unções e outras bizarrices e o pior é que  os cristãos continuam a defender tais ministérios como se tais práticas fossem algo natural, mas tais defensores podem me contestar e dizerem que isso é algo a parte dos ministérios. Quanta cegueira!
O verdadeiro avivamento traz consigo marcas inquestionáveis e profundas. O avivamento verdadeiro leva os cristãos verdadeiros a um retorno as Sagradas Escrituras e, por conseguinte uma forte e sincera obediência e proclamação da Palavra de Deus. A palavra de Deus é lida, estudada e proclamada com afinco, amor e devoção. Através desse retorno às Escrituras e a sua sincera exposição nos púlpitos a convicção de pecado caia fortemente sobre os ouvintes da ministração da Santa Palavra e assim as conversões são genuínas e não motivadas pelo medo e por coação, mas eram motivadas e impulsionadas pelo Santo Espírito de Deus que convencia as almas ouvintes a se arrependerem e se entregarem a Cristo. A oração se torna imprescindível à vida cristã. O contato íntimo, amoroso e sincero com o Senhor gera no coração de cada cristão uma fé genuinamente bíblica e verdadeira, mas hoje a fé que é ensinada e pregada nas igrejas é uma fé torpe e enganosa que leva os cristãos a cometerem as maiores sandices em nome de uma fé que vai contra tudo o que Cristo ensinou. “Decrete”, “declare” e “determine” soa muito bonito, mas não é bíblico e nem é consequência da fé autêntica que é produzida na vida cristã pelo Espírito Santo em detrimento ao avivamento. O verdadeiro avivamento nos coloca em contato com as antigas doutrinas da graça (depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos) e também com os pilares da reforma protestante do século XVI (os cinco solas), a saber, Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria, e o contato com essas santas e bíblicas doutrinas só é possível porque o avivamento leva o crente de volta às páginas das Sagradas Escrituras.
Avivamento vai além de emoções. Vai além de manifestações bizarras e unções esquisitas sem respaldo bíblico e inventadas por homens que querem notoriedade e que são propagadas e disseminadas no meio das igrejas por ministérios que pára se promoverem, ao que parece, ensinam e pregam tais doutrinas.
Avivamento genuíno traz uma fome e consequente amor a Palavra de Deus e com isso pregação autêntica do puro, simples e verdadeiro evangelho de Cristo e como fruto dessa pregação tem-se: arrependimento, convicção de pecado, vida nova em Cristo Jesus para os pecadores que são convencidos pelo Espírito Santo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Essa é a essência do verdadeiro avivamento, é claro que tem muitas outras marcas inquestionáveis que autenticam o verdadeiro derramar do Espírito Santo, mas em essência essas que arrolamos aqui neste artigo são as mais forte e evidentes. E confesso que estou orando por tal obra de Deus em nosso meio, pois nossa apatia e negligência estão beirando o absurdo!
Que seja nossa oração a mesma do profeta Habacuque: “Aviva a tua obra, ó Senhor”!

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos ajude!!!

Soli Deo Gloria!!!

Joel da Silva Pereira